Você já comeu bicho-do-coco? Conheça a experiência de degustar insetos amazônicos em roteiro de ecoturismo no Marajó


Fazenda em Salvaterra troca o pasto pela floresta em pé e fatura com a produção e venda de óleos e sabonetes naturais feitos com sementes, frutas, folhas e larvas. Extrativismo sustentável produz fármacos e cosméticos naturais no Marajó
O bicho-do-coco é uma espécie de protagonista dentro do modelo de negócio sustentável que uma família extrativista implantou em uma fazenda, no município de Salvaterra, no Arquipélago do Marajó.
Além de nutritivo, ele serve de matéria-prima para a produção de óleos com propriedades terapêuticas (fármacos) e cosméticos que são comercializados no estado do Pará.
Quem visita a propriedade Curuanã, localizada na comunidade Jubim, é convidado a degustar o bicho-do-coco, que é uma espécie de larva encontrada no caroço de tucumã e dele se extrai um óleo que é usado como anti-inflamatório, antioxidante e cicatrizante.
Anti-inflamatório natural, óleo extraído do bicho-do-coco é usado na produção de remédios e cosméticos.
Reprodução/Redes Sociais
A degustação pode ser feita tanto in natura, ou seja, com ele tirado na hora ou com ele frito com farofa. O sabor da larva lembra a polpa de coco.
A experiência gastronômica é feita em um barracão, cercado por árvores frutíferas e de espécies oleaginosas, e abre caminho para uma vivência sobre a cultura marajoara e os saberes repassados de geração a geração.
Além do óleo de bicho’, no local também são produzidos óleos de andiroba, copaíba e outros medicamentos naturais feitos a partir de sementes, raízes, cascas de árvores e folhas de espécies encontradas nos 200 hectares da fazenda – uma área equivalente a 200 campos de futebol.
O processo é artesanal e conta ainda com uma produção de sabonetes que auxiliam no tratamento de doenças de pele e também combatem cravos e espinhas.
94% da produção da fazenda é feita com a extração e manejo de espécies frutíferas e oleaginosas
Denilson d’Almeida
A partir de frutas encontradas na propriedade são produzidos licores, geleias e trufas. Com destaque para o cupuaçu, tamarindo, jenipapo, bacuri, abacaxi, taperebá, coco e tucumã – este já citado anteriormente.
A fazenda pertence à família de Marcio Bastos há três gerações. Atualmente, foi aberta para o turismo, por meio de visitas agendadas, como estratégia para divulgar o modelo econômico sustentável que vem sendo desenvolvido por ele e pela esposa.
O passeio inclui um café colonial com cuscuz e tapiocas feitas com queijo de búfala (queijo do Marajó) e com a tradicional linguiça marajoara.
Sustentabilidade
O avô e o pai de Marcio trabalhavam com búfalos e cavalos marajoaras. Para esta atividade era preciso desmatar áreas de floresta como forma de preparar o pasto para os animais. Com isto, parte da vegetação nativa foi perdida.
“Com a morte do meu pai eu assumi a gestão da fazenda e decidi que iria trabalhar para viver do que a terra nos dava, sem que eu precisasse desmatar ou queimar a floresta”, disse.
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O modelo de negócios da família é baseado no que eles denominam de ‘tripé da sustentabilidade marajoara’, no qual se leva em consideração os aspectos socioculturais, a preservação ambiental e a economia familiar de subsistência.
“Na base sociocultural a gente faz um resgate, manutenção e difusão da cultura marajoara. Estamos falando sobre as propriedades medicinais das folhas, sementes, raízes, plantas e frutos que nos foram repassadas de geração a geração”, explica Marcio.
Hoje, 94% da produção deles é feita com o que colhem e plantam na fazenda. O cuidado requer apenas o manejo adequado de cada espécie.
Inclusive, a família recupera áreas degradadas plantando espécies oleaginosas e frutíferas. Isto garante que a floresta dentro da fazenda continue de pé e fornecendo tudo o que a família precisa para obter uma economia sustentável.
Na divisão de tarefas nesse modelo de negócios, a esposa de Márcio, Sheila Barros, e os filhos, Maryane Bastos e Márcio Júnior, assumiram a responsabilidade de se aproximar e buscar novas técnicas para melhorar a atividade extrativista.
Família implantou um modelo econômico sustentável que depende apenas do que a terra oferece.
Denilson d’Almeida
Os três fizeram cursos na Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (Eetepa) e Sheila, atualmente, cursa Tecnologia de Alimentos na Universidade do Estado do Pará (Uepa).
Eles sabiam que para empreender precisavam primeiro aprender mais sobre o novo modelo de negócios a fim de traçar um planejo de manejo sobre as espécies.
“O extrativismo sustentável está perdendo espaço para as grandes indústrias de cosméticos. Têm empresas que procuram pessoas, aqui, da região do Marajó, para adquirir óleo de tucumã, mas não se contentam apenas com o óleo que a gente consegue com as sementes e frutos caídos no chão. Querem que a gente corte a árvore para extrair o máximo possível de óleo e não podemos fazer isso. Ao cortar uma árvore, levará anos para outra crescer e dar frutos”, denuncia Sheila.
A atividade deles reaproveita até as folhas de palmeiras e as cascas de coco que passam a ser utilizadas na confecção das embalagens dos produtos. Tudo feito de forma artesanal.
A produção de licor e de geleias depende da safra de cada fruto.
Licor produzido na fazenda é vendido para todo o Brasil.
Denilson d’Almeida
Atualmente, a comercialização destes produtos é feita na própria fazenda e também em eventos e feiras sobre turismo e sustentabilidade que a família participa pelo Brasil.
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