Homem trans engravida e realiza o sonho de ter filho


No Dia Nacional da Visibilidade Trans, conheça a história de Felipe Borges, de 25 anos, morador de Juiz de Fora, que teve o pequeno Cris. Jovem contou das dificuldades que enfrentou durante o processo. Felipe com o namorado Igor e o filho Cris
Arquivo Pessoal
“Eu me entendi como uma pessoa trans por volta dos 14 anos. Ainda na escola, trocava essa ideia com amigas mais próximas e externava o sentimento de que não me via como mulher”. As palavras são de Felipe Borges, de 25 anos, homem trans e pai de primeira viagem.
No dia em que se comemora o Dia Nacional da Visibilidade Trans, nesta quarta-feira (29), o g1 conversou com o jovem, que compartilhou como foi a transição de gênero, a descoberta da gravidez do filho Cris e as dificuldades do processo.
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Transição de gênero
Segundo Felipe, a transição começou enquanto ele estava no Ensino Médio.
“Foi aos 15 anos, quando mudei o que vestia e como me apresentava para as pessoas. Aos 17, comecei, com a autorização da minha mãe, a usar hormônios masculinos”, explicou.
O jovem lembrou que sempre teve apoio da mãe, apesar de alguns medos a travarem. “Já meu pai não apoiou no começo, mas hoje ele me respeita”.
Felipe Borges quando estava grávido do filho Cris
Arquivo Pessoal
Descoberta da gravidez
Foi em agosto de 2023, aos 24 anos, que Felipe teve uma das maiores notícias da vida: estava grávido!
“Eu sempre quis gerar, sempre soube, a questão sempre foi quando isso ia acontecer”, disse.
O bebê, que nasceu em março do ano passado, é fruto da relação com o namorado Igor Nasobory.
“Quando começamos a namorar, já falávamos sobre ter um filho juntos. Era um plano nosso e nos organizamos para que eu terminasse a faculdade antes. Depois de formado, teríamos o bebê, mas o Cris decidiu chegar antes”.
Atendimento na gestação
Felipe com o namorado Igor e o filho Cris
Arquivo Pessoal
Nas consultas médicas do pré-natal, Felipe contou que teve dificuldades para abrir a ficha de atendimento por ser um homem trans gestante.
“Os sistemas não aceitavam direcionar meu caso para a ginecologia. Em um atendimento de pronto-socorro, fui tratado com descaso e frieza. Senti que a médica que me atendeu tinha nojo de mim. Foi horrível”.
Apesar dos preconceitos médicos, ele disse que também encontrou profissionais excelentes no caminho. “As obstetras, em particular, foram exatamente o que eu precisava durante o processo. Não tenho o que reclamar”, complementou.
Eu vejo, na atenção à saúde, principalmente uma defasagem na formação, inclusive na faculdade. Precisamos falar mais sobre isso. É necessário que as pessoas vivenciem isso dentro da formação acadêmica, principalmente para que cheguemos aos serviços de saúde mais diversos, com o conhecimento necessário para poder lidar com essa população
Futuro do filho
Em um país onde ainda há violência e preconceito contra a população trans, Felipe deseja que o filho tenha um futuro no qual possa viver bem dentro desse meio.
“Espero que ele não sofra discriminação por ser filho de dois pais, por ter um pai que é um homem trans, mas sei que isso vai acontecer, porque há inúmeros preconceitos. Ele já sofre com isso assim, antes de nascer, indiretamente”, apontou.
Mas, além disso, o pai também espera que o pequeno consiga ser feliz e entenda a pluralidade das pessoas.
“Que ele saiba respeitar e não reproduza a intolerância da sociedade”, finalizou.
Mais que uma letra: entenda o que significa a sigla LGBTQIA+
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