Caminhos do Mel: série mostra a importância das abelhas na natureza e os processos para a produção do mel no AC


No primeiro episódio pesquisadores da Ufac estudam os insetos para desenvolver ações sustentáveis para a agricultura e segurança alimentar. Série mostra a importância das abelhas e a produção do mel no Acre
Reprodução Rede Amazônica
Elas são barulhentas, podem ser numerosas em grupos ou solitárias. Podem ser amarelas, pretas ou até ter colorações raramente vistas. Algumas espécies são responsáveis pela produção de um alimento muito apreciado: o mel. Em três episódios, a série Caminhos do Mel vai mostrar a importância das abelhas para o planeta e o processo de produção do mel no Acre.
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As abelhas estão espalhadas em todo o mundo. Aproximadamente 20 mil espécies são conhecidas pela ciência e, entre elas, somente 15% produzem o mel. As que não produzem são consideradas abelhas solitárias, que não vivem em uma sociedade entre indivíduos da mesma espécie.
O professor de ecologia Elder Morato pesquisa abelhas há mais de 20 anos. No laboratório de estudo da Universidade Federal do Acre (Ufac), ele possui variadas espécies que foram capturadas por meio destes ninhos-armadilha. Por aqui, a maioria são abelhas solitárias.
“As abelhas que são solitárias, elas fazem um ciclo de vida, as fêmeas, sozinhas. Elas têm um tamanho muito mais variado, então, a gente tem abelhas pequenas, tem abelhas grandes, elas têm hábitos de vida muito variados, mas elas não formam colônias, então você nunca vai ter um enxame. A fêmea, ela poliniza as plantas, obtém alimento, depois ela vai construir o seu ninho em algum lugar, pode ser numa cavidade, numa árvore, numa madeira, pode ser no chão dessa floresta, pode ser um ninho exposto. Aí ela vai colocando os ovinhos, porque ela já se acasalou com os machos, vai trazendo alimento, e aí aquele ciclo vai se repetindo geração após geração, estação após estação”, explica o pesquisador.
Apesar de não produzirem mel, elas são importantes para a manutenção da floresta.
Série mostra a importância das abelhas e a produção do mel no Acre
Reprodução Rede Amazônica
“Elas são muito importantes porque elas são chamadas principais polinizadores das plantas que têm flores. E as plantas que têm flores, elas constituem a base da nossa alimentação. A gente não pode esquecer que a maioria dos organismos que tem no mundo, no planeta, são plantas. E a maioria dessas plantas que produzem alimento, que têm flores, produzem sementes, elas precisam de um inseto polinizador. As abelhas são esses insetos”, afirma o professor Elder.
E é no Parque Zoobotânico da Ufac onde encontramos algumas dessas espécies. Durante a gravação da reportagem, o professor Elder montou armadilhas feitas com garrafas pets. E não demorou muito para elas aparecerem. As abelhas solitárias não costumam ser vistas na floresta.
O parque ocupa uma área de aproximadamente 100 hectares, é o maior espaço verde urbano de Rio Branco e o principal objetivo do parque é contribuir para o desenvolvimento regional em base sustentável, centrando-se em três grandes pilares: biodiversidade; ecologia e manejo de ecossistemas e educação ambiental.
Série mostra a importância das abelhas e a produção do mel no Acre
Reprodução Rede Amazônica
Na área do parque também foram montadas algumas colmeias artificiais para abrigar abelhas sem ferrão.
“Algumas abelhas que são sociais, abelha-cachorro, abelha-jati, elas têm um ferrão atrofiado, então elas não têm a capacidade de ferroar e injetar um veneno,” acrescenta.
São 12 caixas com colmeias instaladas com, pelo menos, cinco espécies.

“A gente conhece popularmente como chamado urúçu-amarelo, aí temos o urúçu-boi, temos o urúçu-rajado, duas espécies, e temos o urúçu cinzento. São as espécies que nós estamos trabalhando aqui. Por que trabalhamos com essas inicialmente? Porque são espécies conhecidas na região como espécies que produzem uma quantidade maior de mel, o que não significa que são as mais polinizadoras. E temos outras espécies a trabalhar. Então, agora nós temos esse trabalho inicial, e aí a nossa ideia é ampliar o número que a gente chama aqui, a partir de uma parceria que nós tivemos com a própria UFAC, numa confecção de novas caixas,” explica Nilson Alves Brilhante, coordenador de agroecologia do Parque Zoobotânico.
Nilson Alves Brilhante também é o responsável pelo manejo das abelhas no parque. Ele acredita que o ensino das técnicas de criação das abelhas pode melhorar a produção e extração do mel em comunidades indígenas e tradicionais no Acre.
“São comunidades que nos procuram para saber um pouco, se inteirar da atividade, e a gente leva a possibilidade deles poderem criar esse enxame de uma forma racional. Isso porque eles já fazem a busca do mel e da cera da forma tradicional deles, o que finda sendo uma atividade predatória, porque eles retiram de lá, poucas vezes eles repõem a madeira que foi cortada para expor o enxame, e aí eles tirarem o mel, e aí vem os inimigos naturais que se utilizam do mel, das próprias abelhas, dos filhotes, outras próprias abelhas levam a cera, o pólen, e finda que esse enxame é exterminado,” esclarece o coordenador.
Pesquisador alerta que as abelhas estão diminuindo e põe em risco segurança alimentar
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‘As abelhas estão diminuindo o que é uma grande ameaça à segurança alimentar,’ alerta pesquisador
Apesar disso, no restante da Amazônia, a interferência humana tem gerado ameaças para essas pequenas operárias da natureza.
“Um fato: as abelhas estão diminuindo, tal como outros insetos, o que é um grande problema, uma grande ameaça à segurança alimentar dada a importância da polinização. Agrotóxico é um grande problema, porque os agrotóxicos são altamente residuais, então as abelhas, elas tomam contato com aquele produto químico, que é um veneno, elas acabam morrendo, ou, às vezes, o que é pior, ela acaba contaminando dentro da colmeia, contaminando o alimento, o mel. Mas não vamos esquecer que uma ameaça muito maior é o uso da terra desordenado, o desmatamento, as queimadas, a fragmentação da floresta, a gente não pode esquecer as espécies invasoras de plantas também têm um impacto muito grande,” alerta o professor Elder.
E o desaparecimento delas na natureza gera prejuízos que rompem a bolha ecológica.
“Sem as abelhas, a gente vai ter uma diminuição na produção muito grande de alimento. Também é bom lembrar que foi feito um cálculo desse importantíssimo serviço ecossistêmico. Se a gente não tivesse as abelhas polinizando, claro, também produzindo mel, mel próprio, cera e etc., outros produtos aí, a gente teria um prejuízo de nada mais, nada menos, no Brasil, entre 40 a 50 bilhões de dólares anuais,” conclui.
Um valor mais que incalculável perto do risco de ficar sem essas incansáveis trabalhadoras, porque sem elas, uma reação em cadeia pode condenar todo o desenvolvimento da vida no planeta.

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