Jornalista aprovado em 1º lugar para medicina após infartar aos 29 anos conclui residência em cardiologia: ‘recomeço’


Três anos depois de enfrentar um problema cardíaco, o mineiro deixou o cargo de servidor estadual efetivo em Minas Gerais para ingressar em uma nova faculdade e buscar novos rumos profissionais. Neste mês, ele termina, na Bahia, mais uma fase da formação em medicina. De aprovado a cardiologista: João Paulo Mauler calouro e agora formado em cardiologia
Arquivo pessoal
Após um ano de cursinho, o então jornalista e servidor público João Paulo Mauler obteve a maior nota geral na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O desejo era ajudar outras pessoas da mesma forma como foi ajudado pela equipe médica que o acompanhou após um infarto.
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Neste mês de fevereiro, o agora doutor João Paulo Mauler encerra a residência médica em cardiologia em Salvador (BA), cidade pela qual se encantou durante uma visita de férias e para onde se mudou – realizando também o desejo de viver no Nordeste.
O g1 conversou com ele, que relembrou o infarto, a aprovação, dificuldades enfrentadas na faculdade
Troca da zona de conforto por novos desafios
Antes da aprovação para medicina, João já havia concluído o curso de Comunicação Social da UFJF e havia sido aprovado em um concurso público da Fundação Hemominas. Mesmo feliz e com a vida estabilizada, havia o desejo de buscar novos caminhos.
“O infarto foi no início de 2010, e eu ainda passei um tempo cozinhando a ideia [de fazer medicina]. Aí, em 2013, resolvi fazer cursinho, passei e, em 2014, entrei na faculdade”.
A princípio, ser o ‘trintão’ da sala acabou despertando curiosidade, inclusive nele. Mas o fator idade foi um diferencial.
“Durante muito tempo, eu me questionava por não ter entrado antes. Eu via professores meus que tinham a minha idade e pensava que poderia estar lá [como professor], mas acho que tudo acontece na hora certa. Aproveitei muito mais a faculdade pelo fato de ter entrado mais velho, com uma maturidade diferente, por já ter passado por outra faculdade e já conhecer um pouco dos meandros da universidade. Entrei menos calouro”.
Primeiro lugar geral dos mais de 10 mil aprovados na UFJF naquele ano e mais velho da turma, formada basicamente por jovens que haviam saído no ensino médio, João virou referência.
‘Infartei aos 30 anos e larguei tudo para ser médico’
“Acho que foi por ter passado em primeiro lugar. Na época, fui muito procurado, foram feitas reportagens, até na Ana Maria Braga. E, então, eu já entrei conhecido, tanto que fui eleito representante de turma sem nem ter me candidatado. Lembro que, no dia da matrícula, havia pais e mães de colegas que chegavam para mim dizendo: ‘Que bom que você vai estar na sala do meu filho'”.
João disse ter enfrentando muito cansaço com a rotina puxada dos estudos. A maior dificuldade, no entanto, veio logo após o fim da graduação, com a pandemia de Covid-19.
“Estava no segundo mês de residência quando estourou a pandemia. De repente, a gente caiu literalmente naquela situação de guerra, que foi um pouco traumatizante e pesada pra caramba. Eu me vi ali, super inexperiente, começando a vida. Pensei em desistir, não nego isso, até pela minha condição de saúde, com risco maior de pegar Covid”.
João Paulo Mauler em trabalho durante a pandemia de Covid-19
Arquivo Pessoal
Ainda conforme João, “no final das contas a gente sobreviveu, tive Covid umas duas ou três vezes e eu acho que foi um aprendizado danado, um aprendizado único que só quem passou por isso teve. Não gostaria de passar de novo, obviamente, mas foi um grande aprendizado de medicina e de vida, na verdade”.
Em fevereiro do ano passado, o coração novamente foi sinal de alerta.
“Eu vinha acompanhando normalmente a parte do coração, sem nada de diferente, mas em fevereiro do ano passado, eu basicamente infartei de novo, sendo descobertas várias obstruções nas artérias do coração, inclusive naquelas que tinham sido tratadas na primeira vez”, disse.
“Fiz uma cirurgia cardíaca no dia 14 de fevereiro do ano passado e, desde então, venho me cuidando, mantendo a rotina de atividade física, alimentação. A cirurgia foi um sucesso e tá tudo ótimo. Foi maravilhoso, só tenho a agradecer por tudo que aconteceu e sigo fazendo acompanhamento inclusive com meu médico, que é o meu preceptor na residência”.
Problema virou oportunidade
Da mesma forma que transformou o problema cardíaco em oportunidade, a escolha da área médica a seguir também levou em consideração as experiências de vida.
“Terminei minha formatura em janeiro de 2020 e comecei a trabalhar logo depois, com clínica médica na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. E aí, quando eu terminei a clínica médica, já muito claro para mim que eu queria fazer cardiologia, até pela minha própria história. Tinha vontade de morar no Nordeste, perto do mar, destes sonhos que a gente tem. No finalzinho da minha residência de clínica, eu passei férias em Salvador, me apaixonei pela cidade, fiz prova para cardiologia e, do nada, aconteceu a mudança”.
Quando perguntado sobre o João antes e depois da medicina, a primeira palavra dita foi crescimento.
“Eu acho que eu cresci muito, passando pela medicina, caindo no mercado de trabalho, passando pela pandemia, foi muita coisa. Cresci tanto, aprendi tanto, que parece que foi até mais do que isso. Embora, ao mesmo tempo, parece que passou muito rápido. É uma dicotomia muito estranha”.
O segredo para se tornar um grande cardiologista, segundo ele, passa pela empatia:
“Sempre busquei não perder aquela essência da pessoa que, antes de se tornar médico, foi paciente. E senti na pele ser bem tratado e ser maltratado por profissionais de saúde. Então sempre presei muito essa coisa de dedicar realmente a minha atenção ao paciente que está na minha frente, a dedicar o meu tempo ali de forma mais integral, de forma mais atenciosa possível. Então, sempre tentei manter essa essência”.
Perguntado como se vê no novo passo profissional, ele projeta:
“Tô terminando a formação, na verdade, agora. Formei tem 4 anos, mas vinha continuando a formação na especialidade. Então termino agora, quando realmente entro no mercado de trabalho na especialidade que escolhi. Então meu sonho é estar bem estabelecido, tá trabalhando bem inserido na minha especialidade, conseguindo me manter bem e satisfazer pequenos sonhos, como viajar, comprar um apartamento, essas coisas”.
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